Durante todo o mês de novembro, o Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Carlos Alberto Martinelli de Souza, que fica em Gurigica, dá vida a uma programação voltada à realização de manifestações culturais, com apresentações da comunidade escolar, que, além deles, vai contemplar convidados especiais, grupos de dança e artesãos.

A exposição fotográfica “Origens”, que foi montada na unidade de ensino, também na Secretaria de Educação de Vitória (Seme) e, a partir de segunda-feira (07) estará no Museu Capixaba do Negro (Mucane), abriu as atividades nesta sexta-feira (04).

“Origens é uma exposição fotográfica em comemoração ao mês da Consciência Negra, que tem como ponto de partida a autoaceitação e o pertencimento. Pertencer constitui dividir características, vivências e experiências, uma vez que, quem conhece suas origens sente-se pertencente ao meio, produtor de cultura, onde estes são fatores que incitam comportamentos afetivos, participativos e cooperativos e, ao mesmo tempo, enaltecendo a autoestima”, explicou o professor de Arte David Scardua, à frente da exposição, com o apoio dos professores João Emídio Rodrigues, Erika Schulz e Fernanda Fernandes, do turno matutino.

A abertura das atividades teve também a apresentação de jongo, do Grupo de Danças Populares “Andora”.

“Eu sempre trabalho com protagonismo e autonomia. A exposição é o resultado desse trabalho com identidade. O universo das artes é extenso, a gente trabalhou a pintura, o pontilhado, buscando origens africanas, até chegar à fotografia, com a caracterização que remete à cultura africana. Eles se divertiram muito”, contou o professor David, sobre o processo de diversas atividades até chegar ao resultado, que está em diversos espaços da unidade de ensino.

Reconhecimento

Protagonistas das ações, as crianças estavam encantadas em se verem e se reconhecerem nas fotos.

“Achei muito legal. Adorei fazer a lembrancinha. A escola tá mais bonita com as fotos, a gente é linda!” Afirmou a pequena Cleo Pires, do grupo 6.

Também do grupo 6, Ágata Rodrigues não conseguia esconder a felicidade com as atividades e o orgulho de fazer parte da 1ª Mostra Cultural Afro-Brasileira do Cmei. “Foi legal, maneiro, eu amo a minha escola. Tem atividade, tinta. Eu gostei de fazer as coisas que estão no Cmei. Eu gosto de brincar e me divertir”, contou.

Pertencimento

A secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner, esteve na unidade de ensino, prestigiando a abertura das atividades. “Agradeço o trabalho de vocês. A gente tem certeza do quanto transforma tirar da invisibilidade esse tema, falar sobre, contar sobre a história da população negra. A exposição está apaixonante desde a entrada do Cmei. Isso fica, isso marca”, destacou.

A diretora da unidade de ensino, Elisamara Chagas, explicou sobre a importância de realizar as ações.

“O projeto nasceu de um desejo da unidade de ensino. A gente percebeu que nossas crianças não se reconheciam como negras. Então pensamos esse projeto, que é um resgate às origens delas. Esse ano conseguimos colocar no plano de ação esse movimento, cujo resultado vem agora no mês de novembro, envolvendo todo Cmei. É um resgate junto à comunidade escolar, é o empoderamento da cultura negra. A maioria das nossas crianças é negra. Se reconhecer, se valorizar e se empoderar, esse é o nosso objetivo”, ressaltou.

A professora de Educação Física, Erika Schulz, também deu ênfase à dificuldade das famílias que fazem parte da comunidade escolar de se reconhecerem como negras no preenchimento dos dados de matrícula.

“Ao preencher a matrícula, as famílias tinham dificuldade de dizer qual a cor deles. Optamos por colocar essa temática no currículo. Essa mostra é a finalização de todas as ações para que as crianças se reconheçam e se coloquem em lugar de protagonismo. Ao colocar o turbante para a sessão de fotos, elas já se transformavam”, relatou.

Gelcilea Correa Pereira, que faz parte da equipe de pedagogas da unidade de ensino, frisou a importância de trabalhar a valorização da cultura negra desde a Educação Infantil. “Aqui no Cmei é que começa a formação cidadã. Esse movimento é muito importante para as crianças, para que elas se reconheçam e se apropriem de sua história”.

Orgulho

Entre as muitas fotos das crianças do Cmei Carlos Alberto, há também um rosto já bem adulto, da agente de suporte operacional Irene de Andrade. Aos 71 anos, ela é a servidora mais antiga em atividade na unidade de ensino. Ao se ver na foto, produzida, usando um turbante, a emoção aflora.

“Foram os anos trabalhados junto com todo mundo e a confiança que deram nessa foto. Eu sempre me considerei como a mãe da escola, estou aqui desde a inauguração. Chamou a atenção de todo mundo o meu comportamento, que eu aprendi com meus pais. Eu fico por conta da criançada. Eu sinto… essa foto me lembra uma parte que eu estudei sobre a escravidão, vem desse passado, os trabalhos dos negros, essa parte linda que vêm das raízes e a gente não pode deixar enfraquecer. Eu sinto orgulho”, afirmou.

A exposição

A mostra fotográfica tem a participação de crianças dos grupos 1A, 2A, 3A e 4A, realizadas e desenvolvidas durante a prática das disciplinas de Arte, Música e Educação Física, sob orientação do professor David Scardua.

Programação

07 de novembro

• 7h30: Desenvolvimento e produção de máscaras temáticas durante as aulas de Arte, Música e Movimento.
• 19h: Abertura da exposição de fotos “Origens” no Mucane.

16 de novembro

• 8h30: Bate-papo cultural com convidados e oficina “bonecando”, com a construção de bonecas Abayomi.

18 de novembro

• 7h30: Brincadeiras inspiradas no livro “Ndule, Ndule, assim brincam as crianças africanas”, durante as aulas de Arte, Música e Movimento.

22 de novembro

• 8h: Desfile de estandartes com as turmas do tempo integral.

23 de novembro

• 8h30: Roda de Capoeira com convidados especiais.

30 de novembro

• 8h: Lanche cultural com alimentos tradicionais/temáticos pertencentes à cultura afro-brasileira.