Outonizar-se
Eis que vivemos nossos dias de outono. Nesta época do ano, somos brindados com belas imagens que Deus coloca bem diante de nossos olhos. As árvores que, no verão, tinham suas folhas verdejantes e fortes, no outono, entram em um processo praticamente artesanal de pintura. Uma a uma, as folhas das árvores parecem ser pintadas. Umas em tom dourado. Outras avermelhadas. Até que chegue o processo das folhas irem ao chão, colorindo parques, jardins, calçadas. E o que resta é uma árvore diferente. Praticamente seca. Que até parece estar sem vida. Mas, na verdade, está preparada para enfrentar os dias frios do inverno.
Na arte de viver também experimentamos outonos. Praticamente um outonizar-se, se é que se existe este termo. Há dias de vida intensa, plena, radiante. Mas também há o tempo de recolher-se. De perder folhas. De passar pelo processo de envelhecimento. De até parecer sem vida, como as árvores que se aprontam para o inverno.
Outonizar-se pode doer. Não há como negar. Filhos que deixam o ninho vazio. Sonhos que se desfazem. Relacionamentos que se retraem. Saúde que parece escorrer por dentre nossos dedos. As bênçãos que jogamos fora quando caímos em tentação. As culpas que se empilham sob nossos ombros. E, claro, o pior processo de todos. O processo de ver quem amamos tornando-se como as folhas de outono, que se vão. Seja em um processo longo, caindo lentamente e nos dando sinal de que isto acontecerá. Seja sem aviso algum, como uma folha arrancada antes do processo de envelhecer.
Mesmo neste processo de outonizar-se, confessamos algo precioso. Não estamos sozinhos. Cristo está conosco. Sua promessa é esta, em Mateus 28.20: “eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”. Seja nos dias verdejantes ou nos outonos da vida, o Salvador está conosco, mediante sua Palavra. A mesma que nos lembra: “tudo neste mundo tem o seu tempo, cada coisa tem a sua ocasião” (Eclesiastes 3.1). Há tempo, sim, de outonos em nossa vida.
É preciso lembrar que, na cruz de Jesus, folhas também foram ao chão. Na cruz, o Filho de Deus pagou com sua própria vida o nosso pecado. Ressuscitado ao terceiro dia, Jesus traz, hoje mesmo, perdão e redenção para mim e para você. E garante vida eterna, já agora. Mesmo que as folhas mais preciosas já tenham caído. Mesmo que pareçamos como as árvores que, sem folhas, até parecem estar sem vida. Quando Jesus está em nós, através da sua Palavra, a verdadeira vida está em nós. E, na ressurreição dos mortos, ela florescerá perfeitamente, como na mais perfeita e perfumada primavera.
Então fica a dica: como é confortador confessar que Cristo é conosco. Seja nos dias da vida intensa e verdejante. Seja nos dias de outonizar-se.
Pastor Bruno Serves
Congregação Evangélica Luterana Cristo (IELB)
Candelária-RS
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