Nova margem do gás no ES: entre a competitividade e a necessidade de entrega real
A nova margem média de distribuição do gás canalizado, aprovada pela ARSP e fixada em R$ 0,4725 por metro cúbico, pode até ser uma das mais competitivas do país, mas a questão central permanece: essa política tarifária resultará em benefício direto e concreto para a população capixaba?
Com a promessa de levar o gás canalizado a cinco novos municípios e um plano robusto de investimentos da ES Gás para os próximos cinco anos, o anúncio soa como mais um passo rumo à descentralização energética e à inclusão do interior no mapa da infraestrutura estadual. No papel, trata-se de um avanço. Na prática, a interiorização energética no Brasil é, historicamente, um processo lento, marcado por gargalos logísticos e prioridades que mudam a cada ciclo político.
O discurso da modernização da rede, automatização dos processos e segurança operacional precisa ser testado à luz da execução orçamentária, do cronograma físico-financeiro das obras e, sobretudo, do impacto na vida do consumidor final. Porque, se a margem representa menos de 10% da tarifa, o restante da conta ainda pesa — e pesa muito — no orçamento de famílias e pequenos empreendedores, especialmente fora dos grandes centros.
A ARSP ressalta a transparência do processo e a ampla participação social na definição da margem. É um mérito. Mas transparência e escuta pública não devem ser confundidos com resultado. Os investimentos precisam sair da promessa e virar encanamento, faísca de fogão, geração de empregos e segurança energética de verdade.
A expansão da rede de gás é, sim, estratégica. Mas deve ser acompanhada de vigilância permanente e cobrança ativa da sociedade. O Espírito Santo está diante de uma oportunidade de ouro para mostrar que é possível crescer com inclusão territorial e energética. Resta saber se essa oportunidade será, enfim, honrada.
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