Autoridades debatem políticas de combate à violência contra jovens

Segundo os participantes, a juventude negra é a mais afetada pela desigualdade social e pela violência

De acordo com o Atlas da Violência, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais de 300 mil jovens de 15 a 29 anos foram assassinados no Brasil entre 2013 e 2023.  De acordo com o mesmo levantamento, somente em 2023, foram registrados 588 assassinatos de jovens no Espírito Santo. O tema foi discutido durante a sessão especial alusiva à 14ª Semana de Debate contra o Extermínio de Jovens, realizada na quarta-feira (24), no Plenário Dirceu Cardoso.

Proposta pelo deputado Toninho da Emater (PSB), a reunião contou com a presença de representantes do governo e da sociedade civil. O parlamentar ressaltou em sua fala de abertura que os jovens negros são as principais vítimas dessa violência. “Todos presentes nessa Casa de Lei reservaram um tempo precioso do seu dia para estar aqui hoje dialogando sobre a violência que afeta a nossa juventude, principalmente jovens negros, que disparadamente são os que mais sofrem com esse problema”, alertou.

“Essa sessão especial é um espaço muito importante para conversarmos sobre o racismo estrutural e sobre a violência que atinge tantos jovens em nosso estado, especialmente jovens negros em áreas de maior vulnerabilidade social. É uma importante oportunidade de reunir membros do governo do Estado e da sociedade civil para, juntos, dialogarmos sobre o atual cenário de violência e buscarmos soluções para transformar essa realidade”, acrescentou o deputado.

Desigualdade social

O deputado licenciado e atual secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann (PSB), falou sobre a necessidade de políticas públicas que combatam a desigualdade social. “O principal problema desse país é a desigualdade social. Nós temos que trabalhar políticas públicas para reduzir a desigualdade social, porque, senão, essa desigualdade social vai matar os jovens, principalmente os jovens negros de periferia”, opinou.

“Então, nós temos que pensar a igualdade social em todas as suas dimensões, trabalhar políticas públicas voltadas para a juventude e trabalhar para reduzirmos as desigualdades sociais e garantirmos oportunidades para os jovens”, complementou o secretário.

A promotora de Justiça e subcoordenadora do Núcleo de Proteção aos Direitos da Juventude (Neju), Jéssika Lima da Luz, reafirmou que a juventude negra é a mais afetada pela violência. “A gente trata dos adolescentes e jovens em conflito com a lei e esses adolescentes em conflito com a lei chegam à nossa promotoria e, eu não posso deixar de dizer, trazendo marcas terríveis de violência”, lamentou.

“Noventa por cento dessa população é negra ou afrodescendente. Porque a escravidão não acabou com o decreto da Princesa Isabel. A escravidão continua nos morros, na periferia, nos condomínios de bairros abastados, nas escolas e, infelizmente, ela continua, também, matando a nossa população”, concluiu a promotora.

Violência 

O presidente do Conselho Estadual da Juventude (Cejuve), Ramon Matheus dos Santos e Silva, entende que os índices de violência dão a dimensão do problema, mas frisou que é preciso observar também outros aspectos.

“É preciso olhar para os índices de violência contra a juventude negra, mas principalmente pensar aquilo que a juventude negra vive cotidianamente nas periferias desse país. Porque não basta apenas pensar uma dimensão conceitual, não basta apenas olhar para os dados, é principalmente a partir da narrativa que se constrói a vida da juventude negra cotidianamente nesse país”, disse.

“E aí é muito tranquilo a gente olhar para essa realidade e pensar a realidade de uma juventude que enfrenta cotidianamente a violência. É olhar para uma juventude que acorda com um tiroteio, com a juventude que acorda com o território sendo monitorado por um helicóptero, é de uma juventude que não pode sair de casa porque conhece o que é um toque de recolher na comunidade, é de uma juventude que tem que passar por dentro do bairro e ver um corpo tombado no chão”, continuou.

“É de uma juventude que conhece alguém, que tem um parente, ou conhecido, ou um amigo que está preso porque foi pego na esquina vendendo droga. É de uma juventude que conhece uma realidade cruel da violência desse país. E é de uma juventude que ainda diante disso, diante de tanta violência, consegue produzir”, concluiu Ramon.

Ao final da sessão o grupo de rap “Batalha do Estacionamento” se apresentou com uma batalha de improviso (freestyle) com a temática da reunião.

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