Projeto resgata memória da Colônia de Itanhenga e homenageia vítimas da hanseníase no ES
Professores da Universidade Federal do Espírito Santo apresentaram à Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa um projeto de resgate histórico da antiga Colônia de Itanhenga, em Cariacica, onde por décadas funcionou um leprosário destinado à internação compulsória de pessoas com hanseníase. A proposta tem como foco preservar a memória de milhares de capixabas que, entre dor, isolamento e estigma, viveram (e muitas vezes morreram) no local.
Inaugurado em 1935 sob a chefia do médico sanitarista Pedro Fontes, o leprosário foi criado em um momento de avanço acelerado da doença no estado. De apenas 28 casos em 1927, o número saltou para 700 até o ano de inauguração da colônia. Na época, a política pública determinava a segregação forçada como única forma de conter o avanço da doença.
“É uma história que tende a desaparecer, porque praticamente toda a estrutura física do leprosário foi destruída”, alertou o professor Sebastião Pimentel. “Mas é uma história de sofrimento, dor e perdas, que não pode ser esquecida, principalmente porque afetou as camadas mais vulneráveis da sociedade.”
A historiadora Patrícia Merlo detalhou as ações previstas: catalogação e devolução de documentos às famílias, uma exposição itinerante pelos municípios de origem das vítimas e a publicação de um livro com relatos, imagens e análises sobre o impacto da hanseníase no Espírito Santo. A equipe já resgatou mais de cinco mil documentos históricos no local.
A proposta também busca facilitar o acesso das famílias à política de reparação do governo federal, que garante pensão a ex-internos compulsórios — muitas vezes, a comprovação da internação depende justamente dos documentos que estavam esquecidos em arquivos deteriorados.
Outro objetivo é despertar a consciência histórica e combater o preconceito. “Hoje a hanseníase tem cura e tratamento gratuito pelo SUS. Resgatar essa história também é uma forma de combater a desinformação e o estigma que ainda cercam a doença”, ressaltou Patrícia.
A presidente da Comissão de Cultura, deputada Iriny Lopes (PT), elogiou a iniciativa. “Estamos falando de uma ferida aberta, de famílias separadas, vidas marcadas pelo abandono e pelo medo. Esse trabalho de resgate é, ao mesmo tempo, um ato de justiça e um compromisso com a memória coletiva do nosso povo”, declarou.
A comissão garantiu apoio ao projeto, que prevê parcerias com câmaras municipais para sediar os eventos e exposições. A proposta ainda visa construir um memorial físico e digital da Colônia de Itanhenga, como forma de preservar a história e promover reflexões sobre saúde pública, dignidade e direitos humanos.
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