Assembleia tem atuação de destaque na causa animal Ales é um dos poucos Legislativos estaduais com uma comissão permanente de defesa dos animais e tem atuado de forma combativa por meio de CPI
Os direitos dos animais estão cada vez mais presentes no debate público. Na Assembleia Legislativa (Ales), dois colegiados estão diretamente ligados ao tema: a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos contra os Animais e a comissão permanente de Proteção e Bem-Estar dos Animais, inaugurada no último ano.
A criação do colegiado permanente foi um dos principais destaques relacionados à causa animal no Espírito Santo em 2023. E o fato também se sobressai em âmbito nacional, já que apenas as assembleias do Rio de Janeiro, Roraima e Santa Catarina também possuem grupos permanentes destinados de forma exclusiva à causa*.
Outras assembleias possuem comissões que discutem o tema, mas o assunto normalmente está associado ao debate de causas ambientais, ecológicas e de desenvolvimento sustentável, como acontecia antes na Ales, em que a pauta animal estava integrada à Comissão de Meio Ambiente.
Tanto a CPI quanto a comissão permanente são lideradas pela deputada Janete de Sá (PSB), que explica a diferença entre as duas: “A CPI trabalha com um fato concreto (de maus-tratos). Não trabalha com a prevenção. Por isso, a gente via a necessidade de criar uma comissão permanente para traçar políticas públicas de prevenção e de bem-estar animal”, defende a parlamentar.
Para a presidente da Sociedade Protetora dos Animais do Estado do Espírito Santo (Sopaes), Regina Mazzoco, os dois colegiados são grandes vitórias para os protetores dos animais: “Para nós, a CPI já é um avanço muito grande. E ela continua. Então nós ganhamos mais essa comissão. E a gente vê isso com bons olhos, como mais uma conquista”, comenta.
Ela, que também se articula com protetores de animais de outros estados, revela que o Legislativo capixaba se destaca com essas iniciativas: “Eu estive conversando com um deputado federal que não é daqui do estado e ele estava falando que não tem conhecimento de nenhuma assembleia no Brasil que faça esse tipo de trabalho (da CPI)”, revela.
Denúncias
A CPI recebe, em média, 150 denúncias mensais de maus-tratos a animais. Para a apuração dos casos, o colegiado conta com a parceria da Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual, entre outros órgãos e entidades.
Já a nova comissão da Casa recebeu, de agosto a dezembro de 2023, 359 notificações referentes a abandono, maus-tratos e, também, sobre doenças, como a esporotricose. O surto da doença que atinge tanto humanos quanto animais foi tema de debates na comissão ao longo do ano.
No total, o novo colegiado realizou 15 reuniões, sendo seis audiências públicas no interior do estado (Cachoeiro de Itapemirim, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Linhares, Jaguaré e Sooretama), sobre temas como controle populacional, atuação da CPI e sobre o Programa Estadual de Bem-Estar Animal (Pet Vida).
Pet Vida
A criação do Programa Estadual de Controle Populacional e Bem-Estar de Animais Domésticos (Pet Vida – Lei 11.792/2023) foi outro grande destaque de 2023. O programa estadual deriva de um projeto de lei de iniciativa da deputada Janete de Sá.
No último mês de dezembro, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) publicou a Portaria 047-R com a relação dos 35 municípios que atenderam aos requisitos para adesão ao programa. Serão destinados R$ 5 milhões para custeio de ações de bem-estar animal. De acordo com o secretário Felipe Rigoni, um dos principais objetivos é o controle populacional:
“O Pet Vida foi concebido com a ideia de a gente conseguir garantir o bem-estar de cães e gatos errantes (animais de rua) e aqueles cães e gatos de pessoas que estão no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal). Ou seja, pessoas mais pobres que não conseguem garantir esse bem-estar. E o primeiro ponto, é claro, que passa pelo controle populacional”, explica o secretário.
Rigoni informou que 50% dos recursos repassados para os municípios precisam ser destinados à castração dos animais. O restante pode ser utilizado para vacinação e serviços de urgência e emergência. A distribuição do dinheiro segue dois requisitos: quantidade de pessoas no CadÚnico e arrecadação municipal.
“O primeiro critério é a quantidade, é a proporção de pessoas no CadÚnico que tem naquela cidade, porque lembrando que o foco são os animais errantes e os animais que estão em casas de pessoas no CadÚnico. (…) E o segundo critério é a arrecadação per capita do município, ou seja, quanto que o município arrecada por meios próprios. Quanto menos arrecada, mais o município recebe. Porque a gente quis privilegiar aqueles que, de fato, mais precisam”, salienta o titular da pasta de Meio Ambiente.
Ampliação do programa
A presidente da Sopaes elogiou a iniciativa, mas acredita que o programa precisa ser ampliado com mais recursos e atender mais municípios. “A proposta do programa é muito boa (…), mas, hoje, qual é a nossa pergunta: nós temos 78 municípios, quantos municípios foram alcançados? Quantos municípios já estão utilizando, se já estão utilizando? E a questão da verba. Porque apesar de R$ 5 milhões parecer ser muito dinheiro, mas quando você divide para essa quantidade de municípios o valor cai bastante”, pontua.
De acordo com o secretário existe a possibilidade de ampliação. “A gente está fazendo o primeiro ciclo do Pet Vida, terão outros ciclos e, é óbvio que, com os resultados desse primeiro, nós, junto com o governador, vamos avaliar a possibilidade de aumentar essa receita. Mas, obviamente, com R$ 5 milhões dá para fazer bastante coisa”, respondeu Rigoni.
O gestor também ressalta que o programa é uma complementação ao trabalho já desenvolvido pelos municípios. “(…) Lembrando que a gente está complementando o serviço que os municípios já precisam fazer. (…) É uma responsabilidade constitucional do município e agora a gente vai complementar com esse dinheiro do Pet Vida”, disse.
Sobre o atendimento a todos os municípios, o secretário explicou que 73 dos 78 municípios se inscreveram para esse primeiro ciclo, mas nem todos estavam aptos a participar, principalmente porque precisavam regularizar seus fundos para poderem receber os recursos.
O programa funciona na modalidade “fundo a fundo”, ou seja, diretamente do Fundo Estadual de Meio Ambiente (Fundema) para os fundos municipais. Rigoni ainda revelou que o programa deve contar com outro ciclo ainda em 2024.
Próximos passos
Liderança da causa animal na Ales, a deputada Janete de Sá também espera a consolidação do Pet Vida, com a adesão de todos os municípios capixabas e a ampliação dos recursos e serviços. Ainda estão entre os objetivos da parlamentar a luta por um hospital ou clínica veterinária pública estadual e por uma Delegacia de Proteção e Bem-Estar Animal na Polícia Civil.
Janete também revelou que busca interlocução com a bancada federal capixaba e com a bancada da causa animal no Congresso Nacional para o endurecimento da pena para o crime de maus-tratos aos animais. A legislação em vigor prevê pena de reclusão de dois a cinco anos para quem maltratar animal. A parlamentar luta para que a pena seja de, no mínimo, três a oito anos de prisão.
*Levantamento feito a partir de informações disponibilizadas nos portais das assembleias legislativas estaduais
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