Combate às diversas formas de violência e maior participação feminina em espaços de poder são alguns aspectos observados pela titular da pasta da Mulher
A inserção da mulher em espaços decisórios, tanto no setor privado quanto em carreiras públicas e cargos políticos, é um dos desafios apontados pela secretária estadual da Mulher, Jacqueline Moraes, para a promoção da igualdade de gênero. O tema foi abordado nesta quarta-feira (20) em mais uma palestra do Conexões Sustentáveis, projeto da Escola do Legislativo que debate os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
O respeito à igualdade de gênero é estabelecido no ODS 5. Ao fazer um resgate histórico, a secretária apontou que no Brasil as diferenças estão relacionadas à defasagem de 400 anos no empoderamento feminino. “Fomos caladas desde a formação das embrionárias câmaras municipais, em que as mulheres não podiam se manifestar, até o direito de voto feminino, em 1932”, pontuou.
Jacqueline acredita que o fortalecimento das lideranças femininas é o caminho para mudar a estrutura de poder em todas as esferas. Também falou sobre a necessidade de os partidos políticos se organizarem para acabar com as chamadas candidaturas laranjas, que não oportunizam, de fato, a eleição de mulheres.
A secretária defende que as cotas eleitorais deveriam ser de mandatos e não de composição de chapas eleitorais. Para ela, o número de cadeiras nos legislativos, por exemplo, deveria ser proporcional ao percentual feminino de habitantes. Conforme o IBGE, as mulheres são 51,1% da população brasileira.
“A história do Brasil tem estampada em quadros nas paredes de prédios públicos, claramente, que o poder é masculino e branco. E mudar essa fotografia depende de mulheres, principalmente negras, atuando nos cenários de formulação de decisões”, defende.
Cultura machista
Jacqueline Moraes também destacou formas de violência de gênero que muitas vezes nem chegam a ser percebidas pelas próprias mulheres, como a sobrecarga de trabalho e responsabilidades domésticas. “Temos que ensinar nossos meninos que todo mundo tem responsabilidade sobre a casa. Sujou, lavou. E não tem essa de ajudar. Tem, sim, que cada um fazer a sua parte”, enfatizou.
Entre as metas do quinto objetivo da agenda da ONU está a de eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas. Nesse ponto, Jacqueline ponderou sobre o desafio de interferir em questões culturais. “Recentemente fui procurada por um grupo de mulheres ciganas que não querem ser obrigadas a seguir a tradição de se casarem aos 14 anos com maridos arranjados pelos pais”, exemplificou.
De acordo com a palestrante, a ONU não fala em amenizar, mas sim erradicar todas as formas de violência contra a mulher. “E, para isso, tem que acabar com a cultura do julgamento da vítima. Do tipo: será que ela não deu mole para aquele jogador de futebol? Será que não era a roupa que ela usou? Não dá pra legitimar que o homem tem direito sobre a mulher e que pode falar: se ela não me quer, eu mato. Isso não mata só uma mulher, destrói uma família e atinge toda a sociedade”, considerou.
Por fim, Jacqueline observou que a promoção da igualdade de gênero alcança outros ODS, como o que trata da erradicação da pobreza. “Aqui no Espírito Santo, por exemplo, entre a população que vive na extrema pobreza, 85% são mulheres”, apontou.
O ciclo
Na próxima quarta-feira, 27 de setembro, o projeto Conexões Sustentáveis realiza sua quinta palestra. O tema da vez é o ODS 4 – Educação de Qualidade, que será abordado por Sergio Majeski. O palestrante é geógrafo, professor, ex-deputado estadual e diretor da Escola do Legislativo.
O evento é aberto ao público. Ao todo serão realizadas 17 palestras – uma sobre cada tema dos ODS. Os encontros serão, em sua maioria, às quartas-feiras, das 14 às 16 horas, no auditório Augusto Ruschi da Assembleia Legislativa (Ales).
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