Abrigo Emergencial completa um ano e será incorporado à rede socioassistencial
Criado para ser um espaço de acolhimento emergencial e transitório no período mais crítico da pandemia, o Abrigo de Adultos e Famílias de Vitória comemora nesta quarta-feira (13) um ano de funcionamento celebrando os resultados que o colocaram na lista dos equipamentos permanentes da rede de serviços de alta complexidade da Secretaria de Assistência Social (Semas).
Nesse período, o espaço de acolhimento colecionou histórias de garantia de direitos básicos e superação, protagonismo, reinserção comunitária, acesso ao emprego e geração de renda. Em um ano de acolhimento, 332 pessoas foram recebidas no Abrigo e 33.341 alimentações foram servidas.
O sucesso do trabalho desenvolvido no Abrigo pode ser visto, também, no número de acolhidos que tiveram acesso à documentação pessoal básica: 39 pessoas tiraram a carteira de identidade; 34, certidão de casamento/nascimento; 15, o título de eleitor; 19, certificado de reservista; e 15, conseguiram a emissão da carteira de trabalho.
Muitos acolhidos também tiveram acesso a benefícios, como a inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), 41; Benefício de Pensão Continuada (BPC), 10; e, outros 14, tiveram condições de passar por perícia médica.
Ao longo desse período, a equipe técnica realizou mais de 28,9 mil atendimentos. Dez acolhidos alcançaram a condição de serem encaminhados ao mercado formal de trabalho e, 20 deles conquistaram seu domicílio.
“Há um ano estamos ofertando quatro refeições diárias, onde muitas vezes eu almoço sem avisar previamente, participando desses momentos com as pessoas atendidas. Tem também higienização e atendimento psicossocial. Aumentamos para quase 200 vagas para atendimento da rede socioassistencial a esse público. No dia 7 de junho de 2022, menos de um ano após a abertura do local, 13 pessoas fizeram um curso para garçom, sendo prontamente inseridos no mercado de trabalho, em forma de recomeço a partir da escolha de receberem o atendimento. E isso é só o começo de uma jornada de mudanças na vida dessas pessoas, que aceitam o atendimento oferecido pela Prefeitura de Vitória”, disse o prefeito Lorenzo Pazolini.
Um dos que são atendidos é o Pedro Damião da Silva. Recém-formado no curso de Garçom, ofertado pelo Abrigo Emergencial Transitório de Adultos e Famílias da Secretaria da Assistência Social (Semas), em parceria com a Fundação Educacional Antônio Dadalto (Fead), ele acaba de ser contratado para trabalhar no renomado restaurante Coco Bambu, na unidade da Praia do Canto.
O coordenador do Abrigo, Rodrigo de Souza Trindade, disse que o equipamento criado de maneira emergencial para mitigar a proliferação da Covid-19 no município está cumprindo com o papel para o qual se destina. “No abrigo, os acolhidos recebem alimentação, acesso a higiene pessoal, além de atendimento individualizado, articulação e encaminhamentos para serviços da rede socioassistencial da capital”, exemplificou Rodrigo.
Superação
Ivanete e Thales também são exemplos de superação e mudança de vida a partir do acolhimento ofertado pela Semas. Foi só entrar no Abrigo que Ivanete se matriculou na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na turma ofertada no período noturno, do equipamento e se destacou pela força de vontade em aprender. Em situação de rua desde os cinco anos de idade, Ivanete contou que nunca frequentou uma escola, jamais teve apoio familiar para se dedicar aos estudos e, por conta disso, sempre teve dificuldades em se expressar e vergonha de procurar uma escola.
Mas, há seis meses, quando chegou ao Abrigo, Ivanete disse que viu uma oportunidade de mudar sua história. E está mudando. Atualmente, ela vive por conta própria, alugou uma casa, comprou os utensílios básicos e está seguindo a vida. “Comprei a botija de gás, um fogão de duas bocas, cesta básica e pago o meu aluguel. A jornada é difícil. Estou esperando um emprego e, se tudo correr bem, quero continuar estudando a noite para ter um sossego e um emprego. Não quero voltar para as ruas. Não quer mais a vida que tinha.”, comentou ela.
“Minha vida foi sempre de muito sofrimento. Desde pequena, sofri muita violência física e psicológica. Sofri abuso. Eu morava debaixo da ponte da Vila Rubim. E, aos 12 anos, fugi de lá e das garras da pessoa que dizia cuidar de mim. Aí fui viver sozinha nas ruas. Agora, aqui, encontrei o apoio, a acolhida e o incentivo para estudar e, até mesmo, sonhar em chegar em uma faculdade”, falou Ivanete, emocionada.
Ivanete contou que quer aprender a falar “bonito”, revelando sua dificuldade em pronunciar algumas palavras. “Quero falar certinho. Quero saber conversar certinho. Hoje, ainda tenho vergonha”, expressou.
A secretária de Assistência Social de Vitória, Cintya Schulz, falou da importância e da emoção de ver concretizado o sonho de ter um novo abrigo para acolher pessoas em situação de rua. “poucas coisas me trazem tanto orgulho na vida profissional quanto ter contribuído para que o Abrigo 24h para população em situação de rua fosse inaugurado em meio a pandemia, com seis meses de gestão, ofertando 40 vagas, 40 novas oportunidades de escrever uma nova história”.
“Faço parte de um projeto de governo que trata com respeito e dignidade as pessoas em situação de rua, faço parte de uma equipe que tem o lema ‘a gente insiste, persiste e não desiste das pessoas’. São muitos desafios e somos conscientes deles, mas hoje é um dia de comemorar um ano de funcionamento e 332 vidas de pessoas e suas famílias que aceitam ser atendidos pela Assistência Social”, destacou.
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